Saída de grupo do Brasil de Gaza: ‘Saberemos na manhã deste domingo como tudo caminhará. Estamos na fila’, diz embaixador no Egito
Travessia de Rafah para o Egito será reaberta no domingo para a saída de portadores de passaportes estrangeiros, anunciou a autoridade da fronteira de Gaza neste sábado
A travessia de Rafah para o Egito será reaberta no domingo para a saída de portadores de passaportes estrangeiros, anunciou a autoridade da fronteira de Gaza neste sábado. Contatado pelo GLOBO, o embaixador do Brasil no Egito, Paulino Franco de Carvalho Neto, não confirmou se os 24 brasileiros, 7 palestinos com residência no país e 3 parentes que esperam para deixar o território desde o início do conflito poderão sair, afirmando somente que “estamos na lista”.
— Saberemos a partir de hoje cedo (domingo) como tudo caminhará. Estamos na fila — afirmou ao GLOBO. — Estamos prontos para agir.
Citando a autoridade da fronteira de Gaza, a rede americana CNN afirmou que apenas nomes remanescentes incluídos especificamente em uma lista divulgada em 1º de novembro, a primeira de sete divulgadas até agora, terão permissão de atravessar.
Na primeira lista foi autorizada a saída de cerca de 90 feridos, incluindo palestinos em estado grave, e 450 estrangeiros, entre os quais australianos, austríacos, búlgaros, finlandeses, indonésios, jordanianos, japoneses e tchecos, além de pessoas ligadas à Cruz Vermelha e a outras ONGs.
O grupo Brasil só foi incluído na sétima lista, divulgada na última sexta-feira, mesmo dia em que sua saída foi frustrada por novo fechamento da fronteira.
O embaixador Alessandro Candeas, chefe do Escritório de Representação do Brasil em Ramallah, afirmou previamente neste sábado que a entrada do grupo de 34 pessoas no Egito ainda dependia da passagem de ambulâncias com feridos de Gaza. Ele pontuou que a intensificação de ataques a hospitais da região vinha minando a possibilidade de deslocamento do comboio.
Depois de a travessia não ter acontecido na sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou na sexta que não era possível estimar quando eles poderão cruzar. Ele enfatizou que o governo trabalhou desde o começo para retirar brasileiros, com ele mesmo falando em quatro ocasiões diferentes com o chanceler israelense, Eli Cohen.
— A passagem é complexa porque fica aberta durante poucas horas por dia. Há entendimento que primeiro passa ambulância com feridos e só depois disso passam os nacionais de outros países. Foi o que aconteceu hoje (sexta), ontem e quarta. Não teve passagem de Gaza para o Egito por impossibilidade de terminarem de passar as ambulâncias — justificou o ministro, completando: — A situação em Gaza não nos permite dizer se hoje, amanhã ou quando. É uma região conflagrada, e são inúmeras as questões que dificultam a abertura.
Questionado sobre o motivo dos brasileiros não terem entrado nas listas anteriores de autorizados a deixarem Gaza, o ministro afirmou que Israel tem uma “palavra definitiva” e que a abertura da fronteira é feita com “autorização e participação direta de Israel.
— Passaram alguns nacionais de terceiros países, as listas com os brasileiros já estão, que eu me lembre, há duas ou três semanas com os dois lados, e Israel sim tem uma palavra definitiva com relação a quem sai, a militares de Israel em Gaza e a abertura é feita do lado de Gaza com autorização e participação direta de Israel.
Vieira afirmou também que esperava que a ordem de saída de nacionais fosse mantida quando a fronteira fosse reaberta, mas que seria uma definição das duas partes.
— Esperamos e contamos com o fato de que, no momento que for aberta a passagem de Rafah, essa ordem de passagem seja mantida, com atraso de dois dias, três dias, mas que seja mantida. A ordem de passagem será a que for estabelecida pelas duas partes.
Ainda durante a entrevista, o ministro afirmou que os brasileiros e familiares foram para um alojamento próximo a Rafah providenciado pela embaixada brasileira para esperar a abertura da fronteira.
— Os grupos foram reunidos perto de Rafah em nova localidade disponibilizada pela embaixada para que estejam mais próximos e prontos para sair assim que for aberta a passagem. Assim que for aberta a passagem, eles passarão.
Muitas negociações foram necessárias até a autorização para os brasileiros saírem de Gaza. Só na última quarta-feira, o primeiro grupo foi liberado a deixar o enclave palestino, desde o atentado do Hamas em 7 de outubro e do início dos bombardeios israelenses no território. Até então, apenas caminhões com ajuda humanitária haviam entrado em Gaza.
Segundo Vieira, o grupo em Gaza continuará recebendo auxílio do governo brasileiro enquanto permanecer na região, o que inclui uma casa alugada perto da fronteira e dinheiro para que comprem comida. A operação de resgate prevê que eles desembarquem em Brasília e, em seguida, sejam levados para cidades onde têm familiares ou amigos.
— São brasileiros ou parentes. Metade são crianças e há avós de brasileiros, pais — disse Vieira.
(Colaboraram Leda Balbino, São Paulo, e Alice Cravo, Brasília)
Fonte: Globo